quarta-feira, 10 de abril de 2024
Que hub!
sábado, 13 de janeiro de 2024
Fascínio subjulgante
Ele a colocava medo só de ouvir seu nome. Todos afirmavam que era um carrasco, nada justo e as provas eram, extremamente, difíceis. Ela o conhecia apenas de vista, mas torcia para que jamais o conhecesse de verdade. Quem sabe, por sorte, ele pudesse não ser seu professor. De vista carregava uma péssima impressão e, apesar dos pesares, era esta que havia ficado.
O tempo passava e ela temia a proximidade e a possibilidade de encontrá-lo parado no meio da sala de aula, como um dos seus professores. E como o pensamento atrai e o sentimento cria, aquela sina aconteceu. No seu último ano deu de cara com ele e não tinha como escapar, nem pela manhã, nem à noite. Era ele e pronto! O destino fadado ao fracasso seria certeiro porque com ele não havia misericórdia.
E assim seguiu seu destino, temendo, não entendendo a matéria, indo mal nas provas e sentindo desespero.
Meio do ano e todo caos estava formado. Sem esperança alguma, sabia que seu fim seria o mesmo daqueles que enfrentaram a forca ou o fogo, em praça pública, se continuasse calada sem coragem de pedir ajuda.
Confidenciava esse pavor a uns colegas próximos a à sua psicóloga e, se sentia a maior incompetente por não tirar uma nota mediana que fosse. A vontade de frequentar as aulas iam diminuindo cada vez mais e o ódio pela matéria era cada vez mais gigante. Não via solução, nem luz no final do túnel. E não poderia ser reprovada, isso seria a maior vergonha para os familiares e o troféu para seus inimigos, que não eram poucos.
Até que o diabo resolveu mordê-la e os anjos começaram a rir da decisão patética e previsível que ela pretendia tomar. Porém, pura de coração, não teria a coragem de abordá-lo daquele jeito. Resolveu, juntar o resto de suas forças e se dedicar mais às aulas dele, mesmo que tivesse que abrir o cérebro para entrar alguma coisa naquela sua cabeça de vento. E foi assim.
Todavia, o diabo que a havia mordido, vira e mexe tirava a atenção dela e focava em lugares e coisas que a deixavam magnetizada. O jeito de sentar na beirada da mesa para explicar a matéria destacava as coxas grossas e bem delineadas, mesmo sob o tecido da calça bem cortada. Ao virar para o quadro, ela o fitava esfomeada imaginando o que estaria debaixo daquele paletó. Às vezes, parecia que ele lia seus pensamentos e o tirava, aguçando mais aquela mente atormentada.
Ao se sentar para fazer a chamada de presença, quando dizia o nome dela, quase não se ouvia a voz abafada, o que piorava, pois ela, várias vezes tinha que aumentar o tom, o que fazia com que ele a olhasse e notasse as bochechas enrubescidas.
As semanas iam passando conforme o tempo, algumas apressadas, outras entediantes e os pensamentos iam invadindo cada vez mais aquele indivíduo que, aos poucos se tornara um tanto menos comum. À esta altura, ela já havia conjecturado situações inenarráveis entre eles. Porém, as notas continuavam ruins e o desespero bateu à porta. Por sorte não foi só à porta dela, o que a animou deveras e, pela primeira vez, o anjo lhe sorriu. Ele propôs algumas aulas onde explicaria os enunciados das provas, aulas para poucas e seletas pessoas, e neste golpe de misericórdia ela foi uma dos contemplados!
Sempre fora vaidosa, adorava usar sapatos elegantes e até extravagantes, mas para essa primeira aula, que seria numa das salas do enorme escritório, para não chamar atenção demais, resolveu ir mais simples nos calçados. Eram um total de quatros alunos numa mesa retangular onde ele, sendo o líder, sentava-se na ponta, assim teria a visão de todos e vice-versa. E assim se decorreu a primeira aula. Como tarefa, eles levaram provas já ministradas para fazerem em casa. Aliviada, mal sabia que ainda enfrentaria desafios. Contando com as próximas aulas do mesmo estilo, recebeu a notícia de que, algo havia o desagradado e ele não daria mais as aulas para todos os quatro. Taxativamente, eliminou dois, logo, restaram dois. Desesperada, seu pensamento negativo a colocou na lista dos eliminados, mas o anjo estava de boa veia e ela não foi um dos excluídos.
Próxima aula apenas dois alunos na mesma sala de reuniões. Agora não teria como fugir, se sentaria mais próxima dele. A produção foi bem mais elaborada. Banho tomado, cabelos penteados, pele macia e muito perfumada. Ao se sentar, sentiram-se os respectivos perfumes que enebriaram o ambiente. O cheiro de cigarros também podia ser sentido, todos ali fumavam na época, e a bala de hortelã aliviava o hálito que, inevitavelmente, ficara próximo. Foi a primeira vez que imaginou verdadeiramente beijá-lo, o que a fez suspirar e sentir o quão frágil aquela situação toda a tornara. No final da aula, ele deu uma prova para que eles resolvessem. Ela se saiu bem e ficou feliz, percebeu que aquilo era recíproco e, o viu como uma presa indefesa perante a aura imponente que a vitória, momentânea havia criado em torno dela. A partir dali, a ideia de uma terceira aula se esvaiu, mas a promessa de que ele estaria ao lado dela no último teste foi anunciada. E ele cumpriu.
Ali já sabiam, entre eles, que algo os instigava. As almas já haviam sido tocadas e não existia mais beneficência, apenas o resultado interessava e a vontade louca de extravasar todo aquele sentimento que sufocava aqueles corpos.
E, por mérito, ela foi aprovada. Não houve troca de favores, nenhuma promessa, nenhum contrato. Ela foi para casa, mas no seu íntimo o desfecho não poderia ser esse, não apenas esse, precisaria encontrá-lo outras vezes, nem que fosse por acaso. As paixões não podem terminar assim, e, para si mesma, admitiu-se apaixonada por ele.
Os dias passavam e a vontade de vê-lo a consumia como febre que faz padecer os corpos doentes. Assim se sentia, insanamente doente, e o único remédio para esse mal era vê-lo, apenas vê-lo.
Mesmo fraca, levantou da cama e foi, formalmente e pessoalmente, entregá-lo o convite de formatura como forma de gratidão e alívio para sua necessidade. Entrou no elevador, desfilou pelos corredores e chegou até à sala dele, o local onde todas os episódios foram criados em sua mente. Ela o entregou, eles conversaram um pouco e ela se foi, não muito satisfeita, o destino não jogava a favor. Porém, a história não pode terminar assim. Nenhuma paixão fora em vão até ali, apenas as platônicas, e definitivamente, aquela não se encaixava neste quesito.
E mais uma vez os dias iam passando, uns entediantes, outros menos. O ano ia terminando e ela teria que ir embora, mesmo que temporariamente. Aquilo a angustiava profundamente. A sensação de adeus era a pior e nada a entusiasmava.
Contudo, o diabo, aquele diabo que a mordeu lá no meio desse relato, resolveu arrancar um pedacinho dele. Óbvio que ela não sabia, mas com o convite, agora ele tinha o endereço dela e a sorte havia sido lançada. E numa dessas tardes de verão, abafadas, nubladas, sem graça, onde o chove e não molha só serve para atrapalhar os cabelos, assim que ela havia acabado uma produção mediana, porém alinhada para ir à padaria, inesperadamente, o interfone tocou. Por pouco ela não o atendeu, sempre detestou receber visitas que não avisavam que apareceriam, e de maneira nada entusiasmada e com muita má vontade, atendeu o interfone. Mal acreditava que aquilo estava acontecendo. Nos segundos que o elevador chegava, suas mãos tremiam de nervoso e não encontrava uma posição adequada para fingir abrir a porta com naturalidade. E ele surgia, com um terno cinza bem escuro, cheiro de cigarro misturado com perfume e bebida.
O que aconteceu ficou entre eles. E jamais ela esqueceu aquele beijo tão esperado e intenso, tão esfomeado e compatível, com gosto de Whisky, saliva, virilidade e paixão.
Lady
Música: Let it Happen - Tame Impala
domingo, 5 de novembro de 2023
Antes de todas elas (Memórias, crônicas e declarações de desAmor)
A história da gata que não era borralheira.
Era um Sábado, assim como o de hoje, e ela foi convidada para um casamento, o qual já começou a dar problemas assim que chegou para o evento. Ao fazer as malas, não trouxe as roupas necessárias, apenas os cabides. A noite anterior tinha sido bem animada.
Chegou na casa dos pais e não levou uma roupa de festa sequer. E começou o corre para encontrar uma que fosse adequada para um casamento importante. Resumamos esta parte. Encontrou um traje sofisticado porém, nada padronizado, e isso já chamou a atenção. Sem deixar de constar que o secador de cabelos estourou no meio do processo, e teve que secar o restante dos cabelos molhados com a piastra, que destruía aquelas madeixas castanhas e compridas.
Nessa época, Bia Flor nem imaginava que seria criada. Ela estava em processo de vestibular e cá para nós, antes disso, nada era tão interessante para ser notificado neste espaço. Aliás, nem blogs existiam.
Digamos que este blog virou um tipo de "memórias póstumas" para serem lembradas no funeral e após ele. Historias que não podem ser sepultadas junto com o grande coração dilacerado dela.
Retomemos: Apesar de tudo conspirar contra, acabou chegando ao casamento à tempo de cumprimentar os noivos. Protocolos.
Como não havia chegado dias antes, não conheceu os amigos da noiva que estavam na cidade e isso já gerou um "mal estar" nas outras que estavam pleiteando um tal Gaspar desde os dois dias anteriores.
Sempre se achou inferior, mas possuía algo magnético e diferente das demais. Talvez o excesso de cultura, o bom gosto musical, o nariz arrebitado, os pés lindos e um 'Q' de arrogância. Não sabia quem era o disputado da vez e nem tinha interesse nesse detalhe, afinal, se sentia meio peixe fora d'água naquela situação. Mas entre olhares, ele a tirou para dançar. Não se lembra agora a música, mas poderia muito bem ser alguma do Barry White - detalhe importante.
E assim que se apresentaram, ele elogiou os pés dela, calçados num par de sandálias lilás com pedras coloridas, bem delicadas. É atípico, mas os pés são, de fato, bonitos.
Ele era uma mistura de Nicolas Cage com Kevin Costner, aqueles olhos azuis que davam medo de mergulhar profundamente. O porte atlético, a idade um pouco avançada para ela, que à época, tinha 20 e bem pouquinho anos e ele um pouco mais. E não só isso, um perfil de cara poderoso e dono de si, independente, bem resolvido (aparentemente) e muito, muito bem sucedido. Isso a deixava insegura e ao mesmo tempo deslumbrada. Mas foi apenas uma dança, e até aqui, nada mais.
Todavia, aqueles olhos azuis, e aquela pinta no rosto já haviam à incomodado o suficiente para fazer com que os noivos se tornassem coadjuvantes na festa. Continuou no seu canto, apenas trocando olhares.
A festa acabou e os insaciáveis queriam mais, e acabaram indo para uma boate perto, onde "passar cerol na mão, mostrar que sou tigrão, te dar toda pressão" era o hit do momento, confesso que nada adequado para aquele tanto de homens com ternos bem cortados e alinhados, e moçoilas elegantes e alcoolizadas, mas era o que tinham naquele momento.
Entre sinais, acabou fingindo que o pai a ligava e foi embora. E se o destino tivesse sido bacana com ela, esta narrativa terminaria aqui, mas ele quis que ela recebesse, de fato, uma ligação que pedia para esperar na porta de casa. E sentou na sarjeta, de maneira deselegante e desinteressada pois para ela, aquela noite terminaria ali. O cansaço havia batido, e queria entrar para dormir.
Com a cabeça sob os joelhos, o cabelo cobrindo o rosto, eis que vira a esquina o príncipe encantando num Alfa Romeo verde escuro, agora escutando, Whitney Houstoun. Não queridos, não era um playboy ouvindo música eletrônica, exibindo o carro do pai e mostrando o bíceps braquial malhado, com o cotovelo para fora da janela do carro. Era ele, "The Bodyguard" ou "Gone in the Sixty Seconds", era o Gaspar e seus olhos azuis vindo resgatar a gata não borralheira cheia de sono.
Eles foram dar uma volta para conversar um pouco, e quanto mais escutava, mais deslumbrada ficava, tanto com o que conversavam, quanto o que ouviam de música. Ele era um gentleman e ela, uma menina que tinha acabado de entrar numa faculdade e tinha outros vestibulares para fazer. Ele, um homem estabilizado, ela uma menina começando a conhecer o mundo sem os pais. E ambos ouviam os mesmos tipos de músicas e mantinham um papo no mesmo nível.
Conversaram até quase amanhecer, e a partir daí, se falavam quase todos os dias mesmo com uns 1000km de distância, e convites para jantares em cidades diversas, os quais eram totalmente fora da realidade dela. E Novembro, sempre Novembro, se acabou e Janeiro, logo chegou.
E eles se viram todos os dias, apesar de ela ter descoberto que ele tinha uma noiva, o que a deixou magoada por ter mentido, mas continuaram se vendo. Ela tentando não se envolver pois a história teria que terminar ali.
E se despediram, ele iria viajar de férias, e ela, fazer mais um vestibular. E depois, não se veriam mais.
Com a notícia de que havia passado em Direito, recebeu a notícia de que ele estava voltando para vê-la e havia terminado o tal noivado. Os olhos brilharam e foi assim todos os dias daquele carnaval de 2001, os mais perfeitos e cheios de planos para dali um ano se mudar para a cidade dele e começarem uma outra etapa, agora, acompanhada de verdade. Pareciam apaixonados e certos de que os planos iam se concretizar. Assim, ela retornou para sua cidade, e ele para a dele, na expectativa de que, em breve, estariam juntos novamente.
E os dias iam passando, outros arrastando, eles se falavam, trocavam mensagens e emails, mas a frequência foi diminuindo. Os dias eram corridos para ela que fazia duas faculdades e para ele que vivia viajando para fazer audiências. E assim, alguns telefonemas começaram a se desencontrar, mensagens na caixa postal, celular fora de área ou desligado... Até que, numa Terça feira, às 01:15h ela recebe uma mensagem na caixa postal que dizia: ""Princesa", eu não tenho atendido suas chamadas porque eu voltei para a minha noiva".
Pois então, caros leitores, faltou ar, assim como agora, ao transcrever isso, os olhos lacrimejaram e os planos... Não seriam mais planejados. Doeu, doeu da mesma maneira que dói quando ela se lembra disso. E assim, a tecnologia faz um "amor" se acabar, sem ter que se dar maiores satisfações, ou num português claro, sem o cara ter culhão para terminar o relacionamento de forma adequada. Em lapsos de segundos conheceu o primeiro cafajeste.
A partir dali, nunca mais ligou para ele. Mas ele ainda a ligou, bêbado, dizendo que estava arrependido, e que iria dar um jeito na situação. Que sentia saudades dela e falta da leveza que ela levava para ele. Porém, nada aconteceu. E a história do ex gentleman e da plebeia universitária termina aqui.
"Eu conheço todo jeito, todo vício, sem te tocar, Choro indo, chôro vindo, conheço o fascínio, alto de altar. Desconheço a certeza que lhe fez exagera e abrir meus poros. Cavar flores sem lhe ver, chega pra envolver, envolver querer. Lavar flores sem lhe ver, chega pra envolver, envolver querer. Lavrador ou semideus, queima de amor, seja como for, tema de amor."
Ela poderia contar a parte sórdida do pós telefonema, mas é melhor poupar os personagens, já que nunca mais tiveram notícias um do outro, a não ser pelas matérias da "Folha de São Paulo" sobre um tal escândalo do "Mensalão". Famoso "Troféu Bigodagem"!
Pois diga ao livramento que, aquela menina do interior, manda lembranças.
Bia antes da Flor
Música - Run to you - Whitney Houstoun
quarta-feira, 11 de outubro de 2023
Faça isso novamente
Então, presumamos que aqui ainda tenha bastante audiência e os leitores assíduos precisem de uma resposta no que diz respeito ao paradeiro do meu Harvey workaholic. Meu Alex Turner couture. Meu Ryan Merchant macho alfa tóxico, adepto do patriarcado sórdido que fizeram as mulheres submissas e escravas do lar (contém ironia). Adoro pronomes possessivos!
As lembranças se tornam mais nítidas e algumas chegam a ser palpáveis.
O gosto do vinho misturado com cigarro (deselegante ela) e saliva quando se beijavam intensamente. Até morde os lábios como se estivesse realmente o beijando agora, o que não seria má ideia.
Não se sabem como, nem o porque de ter acabado naquela época, porém agora sabem onde se encontrarem... E você, faça o texto, afinal, ela não gastou esse latim à toa!
And just then
quarta-feira, 2 de agosto de 2023
Papiloscopia na alma