sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Realidade onírica

"If you're not drinking, then you're not playing".
Interessante e nada entediante. Algumas taças de vinho e uns cigarros acabam culminando num beijo estranho. Mas entre músicas e risadas a noite vai fluindo. Talvez se encante, talvez se arrependa. Foda-se! Mais um encontro que apenas contabiliza.
Chega em casa ainda meio sob efeito do vinho, tira os sapatos e senta na sala, sozinha. 
Olha praquele vazio e se lembra de quando tudo era um pouco diferente. Sente saudade... 
O silêncio vai sendo rapidamente destruído pelos pensamentos, lembranças e vontades que a consomem como um ácido sulfúrico.
Os sentimentos oscilam loucamente. De risadas eufóricas a um choro desesperador. 
Olha-se no espelho da parede e vê a maquiagem meio borrada. 
Abre uma garrafa de vinho. Tudo um fiasco mesmo. 
Não adianta receber as jóias mais caras, fazer as viagens mais fantásticas, os programas mais glamourosos, as "Sete Maravilhas do Mundo". Ela está atordoada.
Os desejos aparecem e somem num piscar de olhos.
Pega o celular e lê mensagens antigas e recentes. Não as apaga. Mas é simples bloquear algumas pessoas que não interessam mais. Simples deletar os desinteressantes.
Queria ter o poder de tocar as pessoas e transformá-las em pedra, ouro ou qualquer coisa que em alguns instantes pudesse quebrá-las e fazê-las sumir para sempre.
Talvez esteja insatisfeita.
Olha para os sapatos jogados e os coloca novamente. Por instantes quer ser Arabella, Layla, Jessica, Valerie, Susanne, Ruby, Roxanne, qualquer inspiração que a tornasse num mito. 
E a vontade de dançar faz com que ela se levante e de maneira bem sexy dance para si mesma. 
Acaricia seus cabelos desarrumados e imagina que tem uma plateia inteira se deleitando com ela.
Por um instante se sente desejada.
O lado narcisista se aflora em noites assim, onde pode se exibir para o espelho sem ser criticada. 
Ela o quer, mas as forças estão diminuindo com o passar do tempo. 
Sente-se fraca. Desamparada quase desmaia. 
Senta-se no chão com as mãos suando frio enquanto se admira no espelho. 
Seu olhar fixo faz com que veja figuras estranhas, quase monstros e sorri.
A alça do vestido cai pelo ombro e mostra as sardas de sol e bem longe ela escuta o mar. Sente saudades do que nunca existiu, do que ainda não viveu. 
Aquele mar imenso só para ela molhar os pés, correr contra o vento, gritar e virar uma criança sem que ninguém a veja. Brinca com a água e a areia e se sente plena. Porém, ainda está fraca. 
Assusta-se com a sua presença a observando de longe e tem medo de se aproximar. 
O vento forte faz você sumir numa nuvem de areia e ela te procura como se estivesse perdida. E você aparece bem perto dela e diz que tudo está bem. Pega na mão dela e leva-a para a casa. Coloca-a para dormir enquanto vela seu sono e sonhos. 
Você a ama enquanto ela está adormecida, apenas em pensamentos. Tem medo de tocá-la, sabe o quanto é frágil e tem medo de machucá-la. Seu desejo por ela só aumenta e a noite não acaba. A vontade de vê-la acordar te consome. Parece um anjo!
Você luta contra tudo o que ela te faz sentir. Só ela consegue te fazer especial, único. Isso te dá muito medo. 

Aquele rostinho te encanta, mas você não sabe como lidar com isso, sabe que ela tem medo da sua estupidez e por um instante percebe o quão mal você é. E se atormenta como ela. 
Até que o sol aparece e você acorda apavorado com aquele sonho que parece um pesadelo, quando percebe que ela pode estar nos braços de outro. 

Bia Flor 

"You're falling hard, I push away
I'm feelin' hot to the touch
You say miss me the must
And I wanna say I miss you so much
But something keeps me really quiet
I'm alive, I'm lush
Your love, your love, your love"

Música - West Coast - Lana Del Rey