quarta-feira, 27 de julho de 2016

Olhos de PAI

Ele era o MEU PAI, mas eu o emprestei à muitas pessoas.
Jamais imaginei que ele fosse embora neste dia. Foram quase 4 meses dentro de um hospital onde se conversava com os olhos. Aqueles olhos castanhos que diziam tantas coisas, que imploravam por piedade divina, que cativou muitas enfermeiras do Biocor Instituto. Olhos que ora sorriram, ora choraram. Olhos que mergulhavam nas músicas clássicas que ouviu pelo fone do celular. Olhos que me confortavam e, de vez em quando, me davam aquele sorriso gostoso, sorriso de esperança. Os mesmos olhos que me vigiaram até o último contato. Olhos que impunham respeito e muita admiração. Ciúmes de pai zeloso, bravo, enérgico, mas doce, atencioso, amoroso. Os olhos de anjo que Deus designou para ser o MEU PAI. Meu maior amor, meu melhor amigo. Os olhos que debochávamos juntos, olhos que repreendiam. Olhos que conversavam e só nós dois entendíamos o sinal - uma troca, cumplicidade.
Um ano sem você... Tenho tantas coisas para te perguntar, para te contar, para pedir seu conselho, mas você quis ir antes do tempo. Pai, dói tanto, sabe... Ficou um tanto bastante pesado, ando cansada, mas como prometi a você, estou cuidando de tudo e começando a preservar o seu imenso legado.
Ensaiamos tantas vezes minha entrada na Igreja, no dia do meu casamento, tocando Valse de Coppélia... Meu Miserere... Meu Nessun Dorma... Meu repertório. Seu neto que não te dei, você sabe, nunca tive muita sorte nesse quesito. Dançamos muitas valsas juntos. Todos os momentos, desde que eu abri meu olhos e olhei nos seus olhos estão eternizados da minha memória. Pai, te amo demais e a saudade está insuportável hoje. Nós vamos nos encontrar!! E continue sendo a estrela que mais brilha para mim todos os dias.
Sua filha, Bia Viegas