quarta-feira, 22 de maio de 2019

Domenico

Depois de mais de 2 anos teve vontade de escrever. Muita coisa mudou por aqui. Já não incorpora Madeleine, nem Jezabel, por enquanto, mas tem desejos.
Até Bia Flor ficou esquecida. 
Perdeu bastante a identidade. Não ouvia mais músicas, não assistia mais filmes e a inspiração, sequer, existia. 
Parou de fumar e tornou-se mãe.
Mas hoje, se lembrou deste lugarzinho onde sempre aparecia para estravazar os "sentimentos". 
Escutou músicas, releu os textos, mexeu em coisas "velhas". 
Ainda está um pouco estranho isso aqui. Parece meio sem intimidade, um tanto ressabiada. É bem esquisito escrever, despudoradamente, como antes. 
Mãe é meio um troço "imaculado". 
Não veio falar da nova função. Gosta de contar coisas que deixam uma "pulguinha atrás da orelha". 
Hoje, te escreve:

"Nem sei bem como começar, mas certamente, passaria horas escutando você contar histórias dessas suas andanças pelo mundo. Trocaríamos muitas, muitas músicas. 
Provavelmente, teremos muito em comum. Se não tivermos, com o primeiro grande amor da minha vida você tem, e são estas histórias que quero que conheça. 
O momento é delicado pra você, mas me fez sorrir e ter uma pontinha de esperança. 
Parece bobeira mas passei o dia pensando em como fazer para você me notar. Estivemos tão perto e me deu um frio na barriga tão adolescente!
A impressão que eu tenho é de que você é tão leve...
Pareço uma boba escrevendo.
Essa tempestade vai passar e o arco íris irá surgir para nós dois. 
Olha só, se um dia e tiver coragem e não for tarde demais, tomarei alguma atitude. Mas por hora, receba um livro de presente de alguma "desconhecida"." 

Pois é, e esta foi, mais ou menos  a dedicatória do livro que te enviou. E ontem, descobriu que você suspeitou dela desde que o recebeu, e isso a fez sorrir e perder o sono. 
Descobriu que você é leonino e ela uma raposa até então "desconhecida" e sem cartas. 
E como a do livro, é como outras cem mil iguais a ela. Acredita que nessa história invertida terá que te cativar. Primeiro sendo sua amiga e se destacando, de alguma forma, entre as demais da sua espécie. Precisarão criar laços e assim, terão necessidade um do outro. 

"- Tu sentarás primeiro um pouco londe de mim, assim, na relva. E te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas, cada dia, te sentarás um pouco mais perto.
(...)
- Teria sido melhor se voltasse à mesma hora - disse a raposa.
- Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz! Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada. Descobrirei o preço da felicidade! Mas, se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coração." O Pequeno Príncipe

O roteiro você conhece bem. Porém, se aceitares e vieres para um vinho e um papo, siga o ritual e avise-a. Ah, isso é um convite!
 Precisará ter tempo para ajeitar os cabelos e fazer seu rebento dormir. 
Agora você se chamará Domenico, um nome com muitas coincidências para ela, assim como vocês. É um dos nomes de Puccini, o preferido dela, nem seu Mozart, nem Vivaldi com todas as Estações. 

"Abro mão da Primavera para que continues me olhando" Neruda. 


Bia Flor ou se quiser, Le Renard