sábado, 12 de setembro de 2020

Eu recrio

Não sei se é bom, mas eu crio e recrio você sempre. Imagino situações em que estaremos juntos de mãos dadas e sorrindo num dia lindo de Primavera. Sou apaixonada pela Primavera
De vez em quando você tem um rosto, o rosto que eu vejo nas suas fotos, outras, eu invento seu rosto. 
Crio e recrio o seu olhar. Acho seu olhar tão bonito, tão expressivo! Aquele olhar que diz tudo sem que palavras sejam necessárias. O seu rosto viril me faz sentir protegida. Eu tenho o lado frágil, mulherzinha delicada, que por muitas e muitas vezes se cansa de carregar o "mundo" nas costas. 
Crio e recrio histórias, as quais, você é meu par. Mundos diferentes, épocas que já se passaram, outras regiões, vidas que não existem mais, culturas diversas. Histórias tristes e com finais felizes, mas em nenhuma delas você me faz esperar. 
Ironicamente, na vida real, me senti como o Pequeno Príncipe em suas cartas:

"Vale a pena todo esse sofrimento por quem nem mesmo pensa em avisar? Certamente não. Então nem sofrimento se tem mais, e isso é ainda mais triste. (...)
Fico chateado, pois até minha tristeza está arruinada. Teria sido triste se você não tivesse podido vir. Mas para todos a vida está difícil. Eu não teria ficado magoado com você. Mas fiquei magoado por ter-me deixado esperando, não por não ter vindo. É a menos bela de minhas lembranças. Não devia destruir as minhas lembranças." 

E já te adiando, não existe Pequeno Príncipe cético, e nem eu quero me sentir assim. Não quero que você desperte Madaleine, por mais fascinante que ela pareça ser. Ela machuca e dói, dói bastante. 

Naqueles momentos quando tudo parecer estar pior do que parece, saiba o que fazer para me sentir melhor. Como tirar minha atenção das coisas ruins, e com que eu volte a sorrir novamente. Saiba me acalmar com seu toque confiante e seguro. Deixe-me dormir em seus braços e sentir que estará sempre lá quando pesadelos vierem me perseguir? E promete que quando eu estiver chorando, irá me abraçar forte e fazer ficar tudo bem novamente? 
Ao mesmo tempo, tenho medo de recriar você, como das outras vezes e essa confiança que resta se estilhaçar e virar cacos finos de cristais que machucam. Mas enquanto eu criar e recriar você, por mais que as cenas estejam desconexas eu ainda acredito que aquele match não foi mero acaso. 
Eu quero você e isso é sério!

"Os contos de fadas são assim.
Uma manhã, a gente acorda
E diz: 'Era só um conto de fadas...'
E a gente sorri de si mesma.
Mas, no fundo, não estamos sorrindo. 
Sabemos muito bem que os contos de fadas
são a única verdade da vida."

Antoine de Saint-Exupéry 

Bia Flor


                                       

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Jezabel II

Sente que a fase "imaculada" de mãe está querendo dar um pit stop. Sempre que pensava nisso, acreditava que Rosemary iria surgir. Madaleine estava totalmente fora de cogitação e Jezabel nem se passava pela cabeça. Mas, os planos mudaram de repente e eis que surge a temida Jezabel. 
Acho que vem encrenca por aí! Jezabel agora é loba.
Gosta de pensar em Santa Joana D'Arc ou nas intituladas bruxas na época da Santa Inquisição.  
Agora, no âmbito profano, quem está tomando as rédeas é Jezabel. 
Incrível como ela se manifesta sempre nos intermediários, ou no Outono, ou na Primavera. 
Ah o Outono, de novo, estação que é fria por fora, mas por dentro deixa as coisas bem quentes. Estação da sua Primavera.
Um Outono completamente atípico, o mundo em quarentena por causa de um vírus infeliz. E como não tem tantos afazeres por aí, dá pra se deleitar se espreguiçando na cama e sentindo cada pedacinho do seu corpo. Sensibilidade desacordando aos pouquinhos e trazendo velhas e novas sensações. Novos hormônios e vontades. 
Pensamentos que vão looonge, se pega mordendo os lábios delicadamente sensuais e, quando percebe isso, abre um sorriso convidativo e despudorado. 
Não se engane com seu jeito maternal, a essência lasciva sempre poderá ressurgir como um vulcão. 
Aguçaram os sentidos dela e fizeram-na relembrar de detalhes específicos que ouviu em alguns momentos. Seu cheiro inocente, seu gosto doce, seu jeito espevitado, seu beijo faminto, seu olhar devasso.
Sente saudades dos cabelos longos e escuros, dos saltos em stand by, da maquiagem elaborada... De tudo aquilo que poderia ser desfeito assim que a cortina, literalmente, se fechasse. Aquela varanda de vidro... 
Será que ainda dá tempo de voltar a ter, pelo menos, por alguns instantes, a ousadia que a tornava liberta e luxuriosa?
Será que não é incoerente se tornar Jezabel? E se for, quem irá condená-la? Madeleine, Jessica, Rosemary, Bia Flor? Elas nem são tão pudicas assim. 
Pois bem, confesso-vos! 
Jezabel se manifestou durante uma semana que deveria ter ficado enclausurada, trancada com cadeados por todos os lados. Numa Sexta feira de silêncio. Instigaram-na até perder o controle e se deliciar completamente, só não podia tocar, sentir, ter, enxergar, ouvir... Apenas ler e imaginar. Foi tão bom! Tão intenso que o coração acelerava a cada notificação. Salivava como uma esfomeada, e está. Precisa de potássio, assim como as borboletas, para sobreviver. Potássio do suor e das lágrimas de puro prazer. Endorfina. Dopamina. Êxtase.
Foi apenas uma manifestação momentânea que desencadeou o despertar de um sono de 7 anos e uma vontade de 3 anos, logo em meio um apocalipse viral. Mas ela não quer ter você ao lado quando acordar totalmente. Você a magoou, agora foda-se! Jezabel tem alguns bons momentos que gostaria que se repetissem e eles irão acordá-la. Assim meio de lado, despenteada, com sabor de vinho e bastante preguiça, saliva, suor e muitos fluidos. 

Tenho fome, e se me deres o que comer, em troca terás o momento mais insano e inesquecível que poderá existir na sua vida vazia. Tirei totalmente os resquícios de santa e por um momento pretendo ser Jezabel. De novo! 


"Wanna be right where you are
Let's go dancing in the dark
Don't wait, you can push to start, lose control
Kill me slowly with your kiss
Wrap me round your finger tips
Damn, I need another hit
(Make me lose my mind)."

Bia Flor 

Música - Hallucinate - Dua Lipa