sábado, 18 de janeiro de 2014

Algumas dores

As pessoas conhecem muito pouco do que Bia Flor já viveu. Até os amigos mais próximos, às vezes, não fazem ideia dos calvários pelos quais ela já teve que passar. Tão nova e já sentiu tanta dor...
Graças ao bom Deus, não sentiu a dor da perda mais dolorosa que dizem que existe para um filho e não pretende tão cedo senti-la. 
Porém, já lhe tiraram muito, e ela continua de pé, nem sempre aos trancos e barrancos, mas sem piedade e caridade de algumas pessoas que julga especial. 
A começar pela dor de tentarem tirar a vida dela. A dor da rejeição que é tratada até hoje delicadamente. E muitos julgam como frescura. A rejeição é um fantasma que irá carregar pelo resto da vida, independente da dádiva dos dois anjos humanos que tem em sua vida.
As dores dos "amores" da infância e adolescência. Dores que se curaram com o tempo ou com outro "amor". Afinal, ainda não tinha muito discernimento para saber o que era amor de fato. 
No momento contabiliza quatro dores relevantes. 
A primeira dor, já enterrada e nem saudade sente. Uma dor apática. A dor que mal sabia que começaria naquela "tarde de Novembro", como já citou em um texto, igual a de Bentinho, vulgo, Dom Casmurro. Hoje pode afirmar com convicção de que aquela tarde de Novembro já não faz mais parte do seu ser, já não assombra mais. O gosto da traição que descia rasgando amargo pela garganta já não existe mais. Mas foram anos carregando essa dor nas costas, sem entender sequer o motivo por ter tido que vivê-la. Enfim, uma dor que a tornou menos doce, mas já foi literalmente enterrada. E assim será.
A segunda dor sofreu calada, sentiu cada apunhalada sem sequer emitir uma palavra, apenas lágrimas escondidas. A dor por ter sido enganada com todo requinte de promessas e planos. De confissões e renascimento. De lembranças e elos refeitos. Até o dia em que pegou o telefone, logo após a dor da perda de uma amiga querida e seu mundo veio abaixo. Descobriu-se cada mentira da suposta brincadeira. E pela primeira vez, sentindo dor em cada pedaço do corpo, quase sem forças, disse ao causador todas as palavras que merecia ouvir. Mas o estrago já estava feito e ela, calou-se até a dor passar e o nojo tomar conta de tudo. Hoje sente indiferença e o alívio por nunca tê-lo deixado encostar um dedo em um fio de cabelo dela. No entanto, ela já estava mais um pouco menos doce. 
A terceira dor. Ah, essa dor... No final também foi baseada na mentira. Mentira essa que faz doer mais que qualquer coisa, porque mentira trai a confiança, e quando a confiança é traída, não existe sinceridade, e sem sinceridade não tem como se encantar, e sem encanto não existe nada. Essa terceira dor envolveu bastante gente, inclusive a família, já que se tinha "um filho". Postiço, mas era O FILHO, o Pequeno Príncipe que amava a mãe Branca de Neve e a cachorrinha "de algodão doce" que hoje está no Céu. Que tinha o cabelo liso igual ao da "mãe" e um futuro brilhante como "advogado mirim". Que comia formiga, que queria ser monge, bombeiro e que tinha o pai mais forte do mundo, se esse pai fosse mesmo humano e não um monstro. Um filho que foi tirado da vida dela sem maiores explicações. Simplesmente tirou-se. E essa dor, meus caros, ah essa dor é eterna!
Fica-se imaginando como ele está, onde ele pode estar. Hoje sem lágrimas, talvez se um dia contar para alguém a história, chore de saudade e pela crueldade das últimas palavras, mas amor de "mãe" é para sempre e ela sente, às vezes em sonho, que ele se lembra dela e os dois se conectam. "Mãe e filho".
Mais uma vez, abafou-se a dor e seguiu em frente, só que dessa vez, não foi menos doce, já estava amarga. 
A quarta dor resume-se no que irá transcrever:
"O sonho é a coisa mais forte que existe. (...). Toda vez que a gente cai, por mais doído que seja, tem sempre que levantar. (...). Vocês vão ficar juntos de novo como queriam, na beira do Rio São Francisco, que com sua água pura leva tudo, até o pior dos sofrimentos. E obrigada pela última lição (...): um grande amor vence até a morte". [Amores Roubados]. 
E segue, mesmo que essa morte não seja física! Mas, um pouco mais amarga.
"Às vezes eu me sinto com uma criança sem mãe". 

Bia Flor 

Música - Sometimes I feel like a motherless child - Brant Porter 

Nenhum comentário:

Postar um comentário