quarta-feira, 22 de maio de 2013

Perecimento - apenas um texto

As portas se abrem e ela entra deixando todos hipnotizados com tamanha beleza.
Em passos lentos e sincronizados ela caminha ao encontro do tão desejado homem. 
Seu olhar brilha a ponto de ofuscar quem teima em mergulhar nele e, seu sorriso, bastante discreto, causa mistério. Não se sabe se está feliz ou triste. 
E ela caminha a vai se aproximando dele, até que alguém entra naquele templo maravilhoso e lhe dá um tiro certeiro nas costas fazendo com que seu bouquet de rosas negras se esparrame pelo chão.
Ele corre ao encontro dela que vai desfalecendo enquanto admira tudo em câmera lenta e visão turva.
Ele a segura nos braços e pede para que não feche os olhos, mas o sangue que mancha aquele vestido branco e o chão, se esvai sem dó. 
Ela tenta dizer algo e sua voz quase não sai, mas consegue fazer a mais bela das declarações para ele: eu amo você, meu amor! 
E seu corpo perde todas as forças e ela desfalece nos braços do amado. 
Um sonho realizado, mas interrompido no meio, como nos belos sonhos que se acorda de supetão. 
E a hora do seu funeral está próxima.
Beleza não lhe falta. Seus cabelos negros contrastam com sua pele pálida que fica mais branca com o vestido preto que será enterrada para todo sempre. 
E como num funeral de nobreza, os soldados carregam seu caixão como todo requinte e passos ensaiados. 
Ao chegar no cemitério, poucos são os que estão lá esperando pelo seu corpo e para uma última homenagem. Sempre foi assim, até nas festas, convidava-se muitos, mas poucos iam prestigiá-la, porém os que iam faziam-na se sentir radiante de felicidade. 
Sim, aquela que tinha a bela missão de fazer as pessoas felizes estava sendo enterrada, com toda perfeição que sempre desejou. 
E a chuva cai enquanto seu corpo desce para o túmulo. E quase todos vão embora deixando-na sozinha com seu inconsolável amado.
Não teve o privilégio de ser mãe, mas sabia ser tia como ninguém. 
Naquele momento de dor e despedida, ele resolve tirá-la daquele caixão e tomá-la nos braços. 
Estava fria, mas bela e isso cortava mais o seu coração. Aquele corpo sem vida, aquele rosto pálido, aquele sorriso morto mas que mesmo naquele estado, transbordava sensualidade. 
Ele a deita no chão molhado e ao seu lado, colocando sua cabeça em seu peito e os dois se despedem da vida terrena juntos.
E é assim a vida, desde que se nasce, começa-se a morrer aos poucos, uns têm o privilégio de viver mais que outros, alguns têm a vida interrompida subitamente e outros vão morrendo por dentro lentamente a cada rasteira do destino.   

"Dear Lord, when get to heaven 
Please let me bring my man 
When he comes, tell me that you'll let him 
Father, tell me if we can
All that grace, all that body 
All that faces makes me wanna party
He's my sun, he makes me shine
Like diamonds" 

Bia Flor 

Música - Young and Beautiful - Lana Del Rey

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